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terça-feira, 16 de outubro de 2012

Uma ótima notícia


O kit do Dani Edson "Como Ganhar Dinheiro On-line" foi recorde de vendas em setembro. Acesse o artigo utilizando o link abaixo:


http://www.kitganhedinheiro.net/b/?a=kit-ganhe-dinheiro-on-line-recorde-de-vendas-em-setembro-de-2012/&i=15672

Ninguém Venha me Dar Vida


Ninguém me Venha Dar Vida

Ninguém me venha dar vida,
que estou morrendo de amor,
que estou feliz de morrer,
que não tenho mal nem dor,
que estou de sonho ferida,
que não me quero curar,
que estou deixando de ser
e não me quero encontrar,
que estou dentro de um navio
que sei que vai naufragar,
já não falo e ainda sorrio,
porque está perto de mim
o dono verde do mar
que busquei desde o começo,
e estava apenas no fim.

Corações, por que chorais?
Preparai meu arremesso
para as algas e os corais.

Fim ditoso, hora feliz:
guardai meu amor sem preço,
que só quis a quem não quis.

Cecília Meireles, in 'Poemas (1947)'

Dama de Copas

                                                      


A Majestade dos Tronos da Água. A Rainha entre as figuras da 
corte preside a matéria aquosa. Por ser deCopas, Cálices, 
Taças, é duplamente água. Elemento no elemento.
 Líquido e recipiente. Água da Água. Não há nada de
masculino nessa figura - estrogênio
 puro, arquétipo visceral do feminino. 
Nenhuma mulher de carne e osso 
pode ser completamente de Copas, a não ser quando, 
eventualmente, atinge o estado medial. 
Falamos de um arquétipo e do encontro dessa força
 primeva com mulheres de carne e osso.

Sim, a Rainha de Ouros também é duplamente 
feminina, Terra e Água, mas aí é outra história.
 O elemento Terra lhe torna "corpórea", tangível. A Mãe de Ouros
 relaciona-se com A Imperatriz, Terra.

A Rainha Copas, heroína e mote deste artigo, é uma emanação da Alta Sacerdotisa
arcano II.

Pura água, reflexo e transparência. 
Ei-la:

















A Dama das Águas é fluidez e dissolução, líquido amniótico, 
origem do mundo. Paralela ao horizonte espraia-se na superfície. 
Assim como o planeta, formado de 80% de água. Como o corpo humano. 
Mas a Rainha de Copas é 100% água. Especificamente nesse caso,
 20% fazem toda a diferença.

A Majestade das Águas mata a Terra por dissolução,
 o Fogo por extinção e o Ar por dilúvio.
 O poder da água é inquestionável e avassalador. 
Assim também sabemos como ela pode morrer.

A Água rege o sono profundo, as memórias, o inconsciente. 
É o repouso. Horizontalizamo-nos 
quando dormimos. Voltamos ao estado aquático, às praias nativas, 
areia nos olhos. 
Unimo-nos a nós mesmos. Quando as nossas águas internas 
se acalmam namoramos com o
 Sonho. É onde e quando o Tempo, deus radical e de 
pouca conversa, subvertido pelo
 mergulho noturno de uma gota humana nos deixa em 
relativa, momentânea paz.

Característica da Água: o amálgama, o mimetismo. 
Então, a nossa Rainha nunca pode
 mostrar-se exatamente como é. É o caso de Melusina, 
a mulher serpente. 
Ou de Mélisande, alter ego do Cavaleiro Verde no ciclo arturiano.
 Pura Anima. 
Emanação. Signo do engolimento, da expulsão, da corredeira simbólica.

Águas da foz, nascentes e doces (signo de Caranguejo), 
Águas paradas e pantanosas
 (signo de Escorpião), Águas do mar (signo de Peixes). 
Três estágios do comportamento, 
cardinal, fixo e mutável. E assim se mexe a Majestade, 
dependendo dos humores. 
E tendo regência lunar... 
A Lua muda. Existe água na Lua. A Rainha muda.
 A Menina (lua nova), A Sereia (lua crescente),
 A Mãe (lua cheia), A Bruxa (lua minguante). 
Em sua doçura mora o sal e todos os perigos 
do mar. A força das marés. O oceano profundo.

Menina, porque é Boba. Bobíssima. Na Rainha de Copas
 vive uma eterna princesinha. Ela dança. Menina, 
porque é pura. Tem um trato inicial com a inocência. 
É a mulher-menina, a mulher-Estrela, cantada em verso 
e prosa por André Breton e Benjamim Péret,
 a musa eterna do Amor Sublime. Psiquê. 


Espera um príncipe encantado. 
E ativa o romântico-apaixonado em cada homem. 
É com ela que ele quer se casar, a princesa de seus 
sonhos secretos. Mulher Anima. De novo, o espelho.
 Ela não existe. Ela é Ele. Ele é Ela:
 "Conta a lenda que dormia/ Uma princesa encantada/ 
A quem só despertaria/ Um infante, que viria/ 
De além do muro da estrada (...) 
Assim nos conta Fernando Pessoa, ele mesmo, no seu 
poema Eros e Psiquê. Até que o príncipe vê que ele
 mesmo era a princesa que dormia. 



Beatriz de Dante, Charlotte de Werther. Laura de Petrarca.

Mas também é a Sereia que encanta, a sedução encarnada no seu
 canto transparente. Pura Música. Remanso de sereias, os mais belos
 monstros marinhos. Então, também é A Morte, a escuridão e o silêncio profundo. 
Os ossos nos navios, tesouro de piratas marcados com uma caveira. 
Ao contrário da princesa, que completa, a sereia sempre deixa 
um espaço em branco, um espaço a ser preenchido, uma indefinição.
 Troca os sinais, confunde, desloca os sentidos. Fisga. 
Ela é quem transforma o outro em peixe. Incompleta traz a incompletude.

Como antes da Vida conhece a Morte e porque pode transmutá-la é A Mãe. 
Ás de Copas, fonte primeva.  
Dos seus seios jorra o primeiro alimento, leite sagrado.
 Sem ela a Terra é estéril, de nada serve. 

É a Raiz dos Poderes da Água, princípio universal do Amor. 
É o balanço das águas que nina desde o ventre. 
São os braços que acolhem e a maciez do colo. A mais pura tradução da Ternura. 



É a Raiz dos Poderes da Água, princípio universal do Amor.
 É o balanço das águas que nina desde o ventre. 
São os braços que acolhem e a maciez do colo. 
A mais pura tradução da Ternura. 



E é Bruxa porque mexe com o destino.
 Conhece os segredos do passado e do futuro através dos véus,
 raios de sol com poeira purpurínea. Não, sua arma não é fogo que bruxuleia
 nem o vento que arrebenta nem a faca que corta nem a terra que acolhe.
 É a água que reflete. Espelho d'água.

Em toda mulher de Copas há um espelho. 
Há alguém mais bela do que eu? A magia que devolve ao 
emissor os seus próprios desejos. Mas não! Não a confunda
 com a Madrasta Malvada. Estou falando do ponto de vista 
do espelho. A postura dela nunca é longilínea, verticalizada 
e intencionalmente marcada como a personagem de Espadas. 

Copas é o reflexo. Por isso espadas e em geral, os signos do ar, a detestam. 
Mulheres regidas pela aridez do pensamento incomodam-se sobremaneira 
com a beleza desavisada de Copas. 

Mas a nossa Rainha é capaz de iludir o sentido 
da visão. Pode ser uma velha de verruga no 
nariz, pode ser Lorelei na areia, de pequenos
 ou grandes seios. Não se engane. 
Embora seja impossível que ela não o engane
 porque o engano é da sua natureza.
 Não o engano articulado das ar, nem o engano 
vaidoso dos fogo, nem o engano previsível do
 ouro. Mas ao poder que o feminino estende ontologicamente, visceralmente,
 a todas as mulheres.


É dissoluta porque dispersa e dissipa tudo que 
encontra. Não pára em si. Embora
 (convenhamos) aceite contornos por onde quer
 se esgueire. No entanto, ninguém molda a água.
 Apenas a contém por um tempo. Enquanto há 
tijolos, diques, garrafas, ela é fiel. Mas se esses
 lhe apertam, ela os explode. Também não 
a gelem porque com sua força iceberguiana 
não se brinca. É quando ela escorre em
 avalanche e derruba o mundo com sua 
grande bola de gelo e neve. E se afrouxam e dela se esquecem 
a Rainha das Águas escapole 
por meandros, buracos invisíveis e desaparece levando sua graça
 para outra realidade, 
água solúvel em água. Ela está sempre em si. Por isso, 
quase não existe. Paradoxalmente,
 toma o todo terreno, absoluta. Reina sobre as modificações, 
plena de modificações.
 Adquire cores, mas permanece em essência a mesma.

A mulher que tem na sua base a vibração essencial da Rainha de Copas
 precisa, para que possa
 se mostrar ao mundo, do vestido de Outra: algumas vibram em Espadas, 
usando a inteligência 
cortante do ar; outras em Paus com a beleza e o brilho do fogo; 
outras em Ouros, protegendo e 
alimentando com os frutos da terra. A Majestade do Trono das Águas 
é a única que não
 pode mostrar-se em uma situação mundana exatamente como ela é. Enfim...

Emoções e sentimentos, eis sua praia. Ela sente e
 sente muito. Enquanto sente é vítima de si 
mesma. Quando deixa de sentir já era, 
sinto muito. Você também vai chorar enquanto
 ela sofre, lamenta-se, vira berro d'água, 
água da água da água e toma afluentes. 
Afoga-se na tristeza. 
Para defender sua integridade sabe 
(ou pode saber) como alternar o leito por onde 
corre. E nunca passa pelo mesmo lugar. 
Talvez depois de muitos anos, depois de séculos,
 depois de Eras. Ela nunca deixará de ser o 
que era. 

Nota-se também pela ausência. O supra-sumo da 
chantagem emocional. Líquida, liquida 
com tudo. É como se o mar de repente sumisse, desaparecesse.

Trágica, grandiosidade de Diva tem a
 nossa garota delicada. É Ophelia morta entre 
as flores e óperas. Lágrimas. Vítima de sua extrema delicadeza. 
Vitima de sua sinceridade
 desavisada. Lágrimas. Vítima da integridade ofertada aos 
transtornos masculinos. 
Lágrimas. Ela não compreende, só sente. Ama em estado 
puro, mas não no mundo 
ordinário porque, o Amor, aqui na Terra, requer inteligência adequada. 
E lhe falta o jogo de cintura mercuriano, o fogo que lhe transforme a 
tepidez em lava, a antropologia visceral das 
necessidades básicas, o instinto animal norteador. Guria inadequada.
É como é bela, beleza de aquarela emergindo das águas. 
Seu rosto é suave, seus olhos são transparentes seja lá a
 cor que adquiram, de maresia a maremoto. Depende do
 tempo. A moça muda. A moça é um arco-íris submarino, 
colorida pelas algas dos abismos absolutos. Sua beleza é 
excessiva. Como diz o imortal André Breton, a beleza será 
convulsiva ou não será. Esse é o caso.


Sendo a dona da poesia, Dea Musa, digamos que a mulher 
de Copas precise urgentemente e sempre de máscaras
 para se proteger. Máscaras que desgrudadas do seu rosto
 sejam-lhe professoras e tornem-se maneiras de 
entendimento futuro. Que nunca lhe nublem a essência 
e sim lhe mostrem as articulações precisas para que 
ela burle a sua extremada sensibilidade.  Para que possa
 se relacionar sem tanto e angustiado sofrimento. 
Para que não seque, para que não se envenene.


A dor e a depressão são tendências inatas dessa Rainha. 
Seu reino é a água tépida que para interagir precisa de terra,
 de fogo, de ar. Ela é Yin, totalmente yin. 
Para lidar com a dor precisa de apoio até que compreenda
 o que está ao alcance de suas mãos líquidas. E para que se proteja de si mesma. 
Não existe lugar neste mundo para uma mulher Água-Água.
 Ela é puro Cinema, Literatura, Mito.



Sua representação na Arte mostra de
 duas, uma: ou é a ninfa que emerge
 ou a mulher que mergulha para 
sempre. No primeiro caso está a
 lenda da Selkie, mulher-foca que,
 mostrando-se quase sem querer em
 sua face humana faz um coração
 masculino apaixonado. Ele rouba-lhe
 a pele e a toma como mulher. 
Ela lhe dá filhos, mas seu olhar não 
disfarça a saudade do mar. 
Um dia retoma sua pele de foca e 
volta para suas águas matriciais. 
Não pode ser feliz fora do seu 
elemento. 

A história que conto está no filme 
The Secret of Roan Inish e também é 
abordada com maestria por 
Clarissa Pinkola Estés em
 Mulheres que correm com os lobos
 Ainda no cinema, a visão mitopoética de M. Night Shyamalan,
 (em Lady in water) nos
lega Story, uma ninfa da água que aparece numa piscina de um condomínio. 
Perseguida por inimigos que não querem que ela volte para seu mundo 
recebe ajuda humana. 
Aí está a inadequação da Rainha de Copas. Ela não é do nosso mundo.
 A não ser quando percebemos que no nosso mundo também moram a 
fantasia, a 
imaginação e a poesia.