A Majestade dos Tronos da Água. A Rainha entre as figuras da
corte preside a matéria aquosa. Por ser deCopas, Cálices,
Taças, é duplamente água. Elemento no elemento.
corte preside a matéria aquosa. Por ser deCopas, Cálices,
Taças, é duplamente água. Elemento no elemento.
Líquido e recipiente. Água da Água. Não há nada de
masculino nessa figura - estrogênio
masculino nessa figura - estrogênio
puro, arquétipo visceral do feminino.
Nenhuma mulher de carne e osso
Nenhuma mulher de carne e osso
pode ser completamente de Copas, a não ser quando,
eventualmente, atinge o estado medial.
eventualmente, atinge o estado medial.
Falamos de um arquétipo e do encontro dessa força
primeva com mulheres de carne e osso.
primeva com mulheres de carne e osso.
Sim, a Rainha de Ouros também é duplamente
feminina, Terra e Água, mas aí é outra história.
feminina, Terra e Água, mas aí é outra história.
O elemento Terra lhe torna "corpórea", tangível. A Mãe de Ouros
relaciona-se com A Imperatriz, Terra.
relaciona-se com A Imperatriz, Terra.
A Rainha Copas, heroína e mote deste artigo, é uma emanação da Alta Sacerdotisa,
arcano II.
Pura água, reflexo e transparência.
A Dama das Águas é fluidez e dissolução, líquido amniótico,
origem do mundo. Paralela ao horizonte espraia-se na superfície.
Assim como o planeta, formado de 80% de água. Como o corpo humano.
Mas a Rainha de Copas é 100% água. Especificamente nesse caso,
20% fazem toda a diferença.
20% fazem toda a diferença.
A Majestade das Águas mata a Terra por dissolução,
o Fogo por extinção e o Ar por dilúvio.
o Fogo por extinção e o Ar por dilúvio.
O poder da água é inquestionável e avassalador.
Assim também sabemos como ela pode morrer.
Assim também sabemos como ela pode morrer.
A Água rege o sono profundo, as memórias, o inconsciente.
É o repouso. Horizontalizamo-nos
É o repouso. Horizontalizamo-nos
quando dormimos. Voltamos ao estado aquático, às praias nativas,
areia nos olhos.
areia nos olhos.
Unimo-nos a nós mesmos. Quando as nossas águas internas
se acalmam namoramos com o
se acalmam namoramos com o
Sonho. É onde e quando o Tempo, deus radical e de
pouca conversa, subvertido pelo
pouca conversa, subvertido pelo
mergulho noturno de uma gota humana nos deixa em
relativa, momentânea paz.
relativa, momentânea paz.
Característica da Água: o amálgama, o mimetismo.
Então, a nossa Rainha nunca pode
Então, a nossa Rainha nunca pode
mostrar-se exatamente como é. É o caso de Melusina,
a mulher serpente.
a mulher serpente.
Ou de Mélisande, alter ego do Cavaleiro Verde no ciclo arturiano.
Pura Anima.
Pura Anima.
Emanação. Signo do engolimento, da expulsão, da corredeira simbólica.
Águas da foz, nascentes e doces (signo de Caranguejo),
Águas paradas e pantanosas
Águas paradas e pantanosas
(signo de Escorpião), Águas do mar (signo de Peixes).
Três estágios do comportamento,
Três estágios do comportamento,
cardinal, fixo e mutável. E assim se mexe a Majestade,
dependendo dos humores.
dependendo dos humores.
E tendo regência lunar...
A Lua muda. Existe água na Lua. A Rainha muda.
A Menina (lua nova), A Sereia (lua crescente),
A Menina (lua nova), A Sereia (lua crescente),
A Mãe (lua cheia), A Bruxa (lua minguante).
Em sua doçura mora o sal e todos os perigos
Em sua doçura mora o sal e todos os perigos
do mar. A força das marés. O oceano profundo.
Menina, porque é Boba. Bobíssima. Na Rainha de Copas
vive uma eterna princesinha. Ela dança. Menina,
porque é pura. Tem um trato inicial com a inocência.
É a mulher-menina, a mulher-Estrela, cantada em verso
e prosa por André Breton e Benjamim Péret,
a musa eterna do Amor Sublime. Psiquê.
Espera um príncipe encantado.
E ativa o romântico-apaixonado em cada homem.
É com ela que ele quer se casar, a princesa de seus
sonhos secretos. Mulher Anima. De novo, o espelho.
Ela não existe. Ela é Ele. Ele é Ela:
"Conta a lenda que dormia/ Uma princesa encantada/
A quem só despertaria/ Um infante, que viria/
De além do muro da estrada (...)
Assim nos conta Fernando Pessoa, ele mesmo, no seu
poema Eros e Psiquê. Até que o príncipe vê que ele
mesmo era a princesa que dormia.
Beatriz de Dante, Charlotte de Werther. Laura de Petrarca.
Mas também é a Sereia que encanta, a sedução encarnada no seu
canto transparente. Pura Música. Remanso de sereias, os mais belos
monstros marinhos. Então, também é A Morte, a escuridão e o silêncio profundo.
Os ossos nos navios, tesouro de piratas marcados com uma caveira.
Ao contrário da princesa, que completa, a sereia sempre deixa
um espaço em branco, um espaço a ser preenchido, uma indefinição.
Troca os sinais, confunde, desloca os sentidos. Fisga.
Ela é quem transforma o outro em peixe. Incompleta traz a incompletude.
canto transparente. Pura Música. Remanso de sereias, os mais belos
monstros marinhos. Então, também é A Morte, a escuridão e o silêncio profundo.
Os ossos nos navios, tesouro de piratas marcados com uma caveira.
Ao contrário da princesa, que completa, a sereia sempre deixa
um espaço em branco, um espaço a ser preenchido, uma indefinição.
Troca os sinais, confunde, desloca os sentidos. Fisga.
Ela é quem transforma o outro em peixe. Incompleta traz a incompletude.
Ás de Copas, fonte primeva.
Dos seus seios jorra o primeiro alimento, leite sagrado.
Sem ela a Terra é estéril, de nada serve.
É a Raiz dos Poderes da Água, princípio universal do Amor.
É o balanço das águas que nina desde o ventre.
São os braços que acolhem e a maciez do colo. A mais pura tradução da Ternura.
É a Raiz dos Poderes da Água, princípio universal do Amor.
É o balanço das águas que nina desde o ventre.
São os braços que acolhem e a maciez do colo.
A mais pura tradução da Ternura.
E é Bruxa porque mexe com o destino.
Conhece os segredos do passado e do futuro através dos véus,
raios de sol com poeira purpurínea. Não, sua arma não é fogo que bruxuleia
nem o vento que arrebenta nem a faca que corta nem a terra que acolhe.
É a água que reflete. Espelho d'água.
raios de sol com poeira purpurínea. Não, sua arma não é fogo que bruxuleia
nem o vento que arrebenta nem a faca que corta nem a terra que acolhe.
É a água que reflete. Espelho d'água.
Em toda mulher de Copas há um espelho.
Há alguém mais bela do que eu? A magia que devolve ao
emissor os seus próprios desejos. Mas não! Não a confunda
com a Madrasta Malvada. Estou falando do ponto de vista
do espelho. A postura dela nunca é longilínea, verticalizada
e intencionalmente marcada como a personagem de Espadas.
Copas é o reflexo. Por isso espadas e em geral, os signos do ar, a detestam.
Mulheres regidas pela aridez do pensamento incomodam-se sobremaneira
com a beleza desavisada de Copas.
Mas a nossa Rainha é capaz de iludir o sentido
da visão. Pode ser uma velha de verruga no
nariz, pode ser Lorelei na areia, de pequenos
ou grandes seios. Não se engane.
Embora seja impossível que ela não o engane
porque o engano é da sua natureza.
Não o engano articulado das ar, nem o engano
vaidoso dos fogo, nem o engano previsível do
ouro. Mas ao poder que o feminino estende ontologicamente, visceralmente,
a todas as mulheres.
É dissoluta porque dispersa e dissipa tudo que
encontra. Não pára em si. Embora
(convenhamos) aceite contornos por onde quer
se esgueire. No entanto, ninguém molda a água.
Apenas a contém por um tempo. Enquanto há
tijolos, diques, garrafas, ela é fiel. Mas se esses
lhe apertam, ela os explode. Também não
a gelem porque com sua força iceberguiana
não se brinca. É quando ela escorre em
avalanche e derruba o mundo com sua
grande bola de gelo e neve. E se afrouxam e dela se esquecem
a Rainha das Águas escapole
a Rainha das Águas escapole
por meandros, buracos invisíveis e desaparece levando sua graça
para outra realidade,
para outra realidade,
água solúvel em água. Ela está sempre em si. Por isso,
quase não existe. Paradoxalmente,
quase não existe. Paradoxalmente,
toma o todo terreno, absoluta. Reina sobre as modificações,
plena de modificações.
plena de modificações.
Adquire cores, mas permanece em essência a mesma.
A mulher que tem na sua base a vibração essencial da Rainha de Copas
precisa, para que possa
precisa, para que possa
se mostrar ao mundo, do vestido de Outra: algumas vibram em Espadas,
usando a inteligência
usando a inteligência
cortante do ar; outras em Paus com a beleza e o brilho do fogo;
outras em Ouros, protegendo e
outras em Ouros, protegendo e
alimentando com os frutos da terra. A Majestade do Trono das Águas
é a única que não
é a única que não
pode mostrar-se em uma situação mundana exatamente como ela é. Enfim...
Emoções e sentimentos, eis sua praia. Ela sente e
sente muito. Enquanto sente é vítima de si
mesma. Quando deixa de sentir já era,
sinto muito. Você também vai chorar enquanto
ela sofre, lamenta-se, vira berro d'água,
água da água da água e toma afluentes.
Afoga-se na tristeza.
Para defender sua integridade sabe
(ou pode saber) como alternar o leito por onde
corre. E nunca passa pelo mesmo lugar.
Talvez depois de muitos anos, depois de séculos,
depois de Eras. Ela nunca deixará de ser o
que era.
Nota-se também pela ausência. O supra-sumo da
chantagem emocional. Líquida, liquida
com tudo. É como se o mar de repente sumisse, desaparecesse.
Trágica, grandiosidade de Diva tem a
nossa garota delicada. É Ophelia morta entre
as flores e óperas. Lágrimas. Vítima de sua extrema delicadeza.
Vitima de sua sinceridade
Vitima de sua sinceridade
desavisada. Lágrimas. Vítima da integridade ofertada aos
transtornos masculinos.
transtornos masculinos.
Lágrimas. Ela não compreende, só sente. Ama em estado
puro, mas não no mundo
puro, mas não no mundo
ordinário porque, o Amor, aqui na Terra, requer inteligência adequada.
E lhe falta o jogo de cintura mercuriano, o fogo que lhe transforme a
tepidez em lava, a antropologia visceral das
E lhe falta o jogo de cintura mercuriano, o fogo que lhe transforme a
tepidez em lava, a antropologia visceral das
necessidades básicas, o instinto animal norteador. Guria inadequada.
É como é bela, beleza de aquarela emergindo das águas.
Seu rosto é suave, seus olhos são transparentes seja lá a
cor que adquiram, de maresia a maremoto. Depende do
tempo. A moça muda. A moça é um arco-íris submarino,
colorida pelas algas dos abismos absolutos. Sua beleza é
excessiva. Como diz o imortal André Breton, a beleza será
convulsiva ou não será. Esse é o caso.
Sendo a dona da poesia, Dea Musa, digamos que a mulher
de Copas precise urgentemente e sempre de máscaras
para se proteger. Máscaras que desgrudadas do seu rosto
sejam-lhe professoras e tornem-se maneiras de
entendimento futuro. Que nunca lhe nublem a essência
e sim lhe mostrem as articulações precisas para que
ela burle a sua extremada sensibilidade. Para que possa
se relacionar sem tanto e angustiado sofrimento.
Para que não seque, para que não se envenene.
A dor e a depressão são tendências inatas dessa Rainha.
Seu reino é a água tépida que para interagir precisa de terra,
de fogo, de ar. Ela é Yin, totalmente yin.
Para lidar com a dor precisa de apoio até que compreenda
o que está ao alcance de suas mãos líquidas. E para que se proteja de si mesma.
Não existe lugar neste mundo para uma mulher Água-Água.
Ela é puro Cinema, Literatura, Mito.
Ela é puro Cinema, Literatura, Mito.
Sua representação na Arte mostra de
duas, uma: ou é a ninfa que emerge
ou a mulher que mergulha para
sempre. No primeiro caso está a
lenda da Selkie, mulher-foca que,
mostrando-se quase sem querer em
sua face humana faz um coração
masculino apaixonado. Ele rouba-lhe
a pele e a toma como mulher.
Ela lhe dá filhos, mas seu olhar não
disfarça a saudade do mar.
Um dia retoma sua pele de foca e
volta para suas águas matriciais.
Não pode ser feliz fora do seu
elemento.
A história que conto está no filme
The Secret of Roan Inish e também é
abordada com maestria por
Clarissa Pinkola Estés em
Mulheres que correm com os lobos.
Ainda no cinema, a visão mitopoética de M. Night Shyamalan,
(em Lady in water) nos
(em Lady in water) nos
lega Story, uma ninfa da água que aparece numa piscina de um condomínio.
Perseguida por inimigos que não querem que ela volte para seu mundo
recebe ajuda humana.
recebe ajuda humana.
Aí está a inadequação da Rainha de Copas. Ela não é do nosso mundo.
A não ser quando percebemos que no nosso mundo também moram a
fantasia, a
fantasia, a
imaginação e a poesia.
Quando há uma identificação
extremada com a Rainha de
Copas o risco de uma mulher
perder-se no espelho das águas
é alto. Voltamos à Ophelia
shakespeariana boiando morta
entre ninféias.
Movimento narcísico. Ela quer
ser só ela mesma e nada mais.
É a escritora Virginia Wolff
caminhando com uma pedra
para o mundo das profundezas
no seu suicídio.
É a personagem Ada do filme O Piano. Muda, sua voz é música.
O cenário da sua história
O cenário da sua história
é cinza, nuvens carregadas, céu nublado chuva e sangue.
Há água por todos os lados.
Há água por todos os lados.
Na magistral interpretação de Holly Hunter, a voz
da sereia retorna para o mundo das águas.
da sereia retorna para o mundo das águas.
É também Dora Maar, de Picasso, que não chorava à toa.
Mal aspectada é La Loroña, a mãe que afoga seus filhos.
Banshee, aquela que grita e
Banshee, aquela que grita e
provoca a morte - Lilith, Cihuacoatl, Lamia e as sereias
eslavas, as Rusalkas.
eslavas, as Rusalkas.
A Rainha de Copas é também Viviane, a Senhora do Lago,
a guardiã de Excalibur.
a guardiã de Excalibur.
Recebe, conhece e oferta. E quando não se distrai com as mazelas humanas retorna
para o poço, lá onde o fundo é tão fundo que não tem fim.
Poderíamos arriscar uma classificação. Inadequada, certamente.
Quando se fala da Rainha
Quando se fala da Rainha
das Águas nenhuma classificação é possível. Escondendo-me de sua fúria
(ou mágoa),
(ou mágoa),
esquecendo-me da minha carta natal com caranguejo ascendendo em caranguejo,
apelo para as artes geminianas: A Rainha de Copas de Crowley (Thot Tarot)
tem sua
tem sua
posição astrológica entre o 21° de Gêmeos ao 20° de Câncer.
Possivelmente serei perdoada.
Possivelmente serei perdoada.
Thot Tarot |
A Rainha de Copas é:
MEDIUM se combinada com Copas
SEREIA se combinada com Paus
MÃE se combinada com Ouros
VIRGEM se combinada com Espadas
Seu poder de entendimento dos segredos s do mundo plasma-se quando está em essência
no mesmo elemento, quando é A Sacerdotisa no Tarot. O poder de sedução inflama-se na
Sereia quando de encontro com o fogo, A Força no Tarot. O amor incondicional e o poder
de gerar, parir e nutrir no elemento terra, A Imperatriz no Tarot. E a pureza recheada com
poder do destino quando de encontro com o céu, com o ar, A Estrela no Tarot.
A Rainha de Copas, o feminino frágil, belo, romântico, carente e ao mesmo tempo nutritivo,
chafariz de toda a vida, parece ter se escondido para sempre nos livros ou falésias encantadas
de pequenas cidades do interior da Irlanda. Em cartas de Tarot. Não cabe aqui.
Virou personagem, voltou de onde veio com as veias sempre azuladas sobre fundo branco.
Sua sensibilidade curiosa e inocente, suas vestes diáfanas, seus olhos verdes azulados
de mergulho, sua incompetência funcional escondem-se cada vez mais nas ondas radicais
de um tsunami. Acordem! Inumana e fonte de toda a vida, toma o mundo em ondas.
Rainha que não necessita de um império. E que, no entanto, reina absoluta.
Queen of Cups by ghostinthesnow |
Autora: Zoe de Camaris in http://zoedecamaris.blogspot.com.br/2011/09/rainha-de-copas.html#
Nenhum comentário:
Postar um comentário